Fuga

Dizer-te que o mundo é mais cinzento que belo e obrigar-te a ouvir as palavras sábias de um qualquer idoso sentado no banco do jardim, por onde te passeias... Pegar a tua mão e segredar-te ao ouvido que não é estúpido o que se escreve em cartas, mas que pode ser cruel não as saber interpretar... Fitar os teus olhos e fixar um horizonte de promessas e futuros falhados... Contar-te os meus planos, a minha vida, as minhas lágrimas... Expor o coração ao mais ínfimo pormenor e ainda assim voltar para casa com ele dentro do peito... Fazer as malas, retocar a maquilhagem, vestir uma roupa bonita, sentir confiança e ainda assim sair para a rua e fugir de mãos vazias!
Texto para a Fábrica de Letras (Agosto)